sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cigarrinho

Olhei durante alguns minutos para ela, e a ansiedade me fez pedir um cigarro. Engraçado foi a reação dela: “por que acha que eu fumo?”. Só respondi que achei que tinha cara de fumante. “To errado?” perguntei. “Cara de fumante? Como assim?”. “Cara de fumante sabe...sei lá!”. “Pois então não te dou o cigarro!”. “Então tu tem, eu to certo”. Ela me olhou com uma cara de raiva que jamais tinha visto; pensei em correr, mas pelo tamanho de suas pernas acho que me alcançava – a não ser que fosse fumante! Preferi não arriscar. “Perdão”. “Perdão o quê, ora?” “A falta de educação! A moça fuma?”. Ela continuou com o olhar raivoso, agora mais desconfiada.

Não sei certo quanto tempo ficamos nos olhando, pareceu eterno. Fiquei com receio de sair dali, sem contar que o ambiente me acalmava. “Até tenho”, ela falou, ou melhor, sussurrou. “Pode me dar um?”, sim porque dificilmente eu devolveria um cigarrinho, não pediria emprestado só por educação. “Uhum”, respondeu, embora não vi sua mão buscando nada nem no bolso, e muito menos na bolsa que repousava ao seu lado. “Com uma condição”, completou – agora sim dando mais sentido a sua inércia. Um silêncio se fez no ar. Esperei mais um pouco e ela então pediu o que queria.

“Não! De jeito nenhum”. “Então fica sem cigarro”, me provocou. “Quer que compre a ‘G’ pra ti? Pra quê?” “Que tu acha?”. Não poderia ir; contudo o ‘não ter cigarro’ e nem dinheiro me ansiava cada vez mais. Pedi o dinheiro, pensando seriamente em comprar um maço e fugir. Minha honestidade não deixaria, sem contar o medo que aquela puta me dava. Com a grana na mão e o orgulho já esfregando no chão, fui até a banca e pedi a tal da ‘G’. Foi pior que comprar a primeira camisinha. Muito pior. Ainda brinquei com o velhinho que me atendeu: “O vermelho do rosto é reflexo da cueca do Frota”. Santa estupidez! Vi que ele botou a mão embaixo do balcão, então com medo de uma bala, não perdida, mas muito bem dirigida contra minha cabeça, sai dali sem pensar duas vezes. “Ta aqui sua louca; vê meu cigarro agora” “toma”. Botei o cigarro na boca como quem espera a última gozada; fechei os olhos e esperei para apreciar a grande maravilha, não de Deus, mas sim do homem. Ops. Acabou. Demorou tempo de mais, o cigarro ainda estava apagado. Esperei alguns minutos, mas nada da rapariga acender meu cigarro. Olhei para ela como quem pede alguma coisa, e de fato pedi: “e o fogo?” “não tenho” “FILHA DA P...”. Não deu tempo de terminar; ela me cortou: “vamos lá pra casa que ponho fogo nesse teu cigarrinho”. Fui. Decidi parar de fumar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário