sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um novo político

Tornar-me-ei político. Essa é a decisão final. Não sou simpático, nem de muitos amigos, mas ao menos já estou treinado para ignorar as câmeras e repórteres chatos – digo chatos, pois fazem perguntas inteligentes que me constrangerão. Não deve ser difícil, juro que não roubarei. Mas mentirei; isso é impossível não fazer. Fácil mesmo, imagino eu, será desviar dinheiro – certo, talvez roube um pouquinho (ou muito). Provavelmente deve ter um guia rápido em algum lugar, talvez uma secretária ou secretário que me guiarão por esta jornada tão empolgante. Isso não me preocupa. Tenho algumas dúvidas sim, de como proceder, mas a dificuldade de arranjar um aliado político não pode ser tão grande. Votos? Solução fácil: cestas básicas, britas e promessas – este último, primordial para minha carreira política.

Concordo que, provavelmente minha família não concordará de cara com tudo isso, afinal não é fácil ter um parente num lugar tão sujo. Já considerei isto também e a solução não é difícil. Usarei o tal do nepotismo – não sei bem qual sua utilidade, mas deve ter em alguma lojinha do congresso para vender, vou para Brasília rapidim, rapidim. Disseram-me que esta é a nova – ou velha? Não lembro – moda para acabar com problemas familiares, até mesmo as mais sérias encrencas com a mulher. É incrível a facilidade que consigo solucionar cada mínimo problema que aparece, acho que fiz a escolha certa na profissão.

Certo dia perguntaram-me o que seria da minha vida, o que faria como meio de sobrevivência, o que estudaria, etc, etc. Sinceramente? Fiquei sem resposta. Pensei em algo produtivo, que ganhasse bem – não me importaria em trabalhar – e por mais que me odiassem, todos deveriam se render a mim. Entrar para o mundo do crime e ser reconhecido como um criminoso por todos chegou a me passar pela cabeça, mas foi então que me lembrei de como as cadeias estão lotadas. Não, isso não. Um garoto tão jovem não sobreviveria em meio a tantos ogros. Sem contar que não combina comigo ficar fugindo por ai. Pois é, a política foi a melhor saída. O ruim é começar de baixo, como vereador, prefeito, então só depois poder “mexer com algo maior”. Seria como roubar mercadinho para só depois virar traficante ou ladrão de bancos.

Na verdade a política nunca foi a minha primeira escolha, acho tão sujo. Mas ganha bem. Rouba bem? Sei lá, sei que dim-dim viria direto para meu bolso – ou meia, ou cueca, ou conta bancária mesmo. Pois bem, a política foi minha última escolha, diria eu, tentei estudar, juro que tentei. Tentei ser pobre e trabalhar feito louco, mas é difícil e cansa. Estudar como? Pagar a faculdade não dá. Pensei em entrar pro mundo do crime como traficante, assim começaria mais de cima, não precisar roubar. Fiquei com medo de me viciar. É, caros amigos, a política foi a única solução. A única coisa que tenho a fazer é iniciar, de fato minha carreira.

De tudo isso, o único problema sem solução até agora, é meu medo. Meus amigos dizem que não preciso, afinal se for pego por alguma falcatrua basta recorrer aos favores – pagos com outros favores mais tarde ou dinheiro mesmo. Realmente parece ser fácil, mas já pensou se a mídia pega no meu pé e me acusa de um monte de coisas que, supostamente, eu não fiz? Certo que tenho um plantel de mentirosos – perdão, plantel de ‘omissores’ – ao meu lado, mas mesmo assim, fico com receio. Sei lá, não sei se é uma boa ideia – sim, sou indeciso, que grande surpresa. Já sei, tentarei falar com nosso excelentíssimo presidente, talvez me dê algumas dicas. Viu? Solução fácil. Beber eu já bebo, só falta me inteirar sobre as novelas globais e sobre o BBB – tudo bem, o próximo -, tenho certeza que o povo me amará. Afinal, eu prometo que se for eleito...

Um grande abraço do seu futuro e talvez vitalício político brasileiro.

6 comentários:

  1. "Seria como roubar mercadinho para só depois virar traficante ou ladrão de bancos". Bela analogia essa.
    A política tornou-se para mim tão deseinteressante quanto a novela das 6. Imagino que o texto explique o por que disso.
    Mais uma vez, ponto para o amigo.
    Parabéns.
    Abraço

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  2. Valeu meu caro! Ufa, ainda bem que falou da novela das 6, se cogitasse a hipótese de falar da novela das 8 (que é das 9) ai teríamos um impasse meu amigo. Tudo, menos falar mal da novela das 8 - ou das 9. Que desgraça! hahahahaha
    Para mim, ao contrário, essa merda toda instiga. Gosto de xingar mesmo, então em falta de coisa melhor falo dessa porcaria. Obrigado por ler e acompanhar tão prontamente.

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  3. Pergunte ao nosso presidente mesmo, foi provado: com 80% de aprovação, devido a cestas básicas - bolsa família, cotas, como quiser - , se pode fazer qualquer coisa que se bate palmas. Parece as novelas: uma ilusão que todo mundo resolveu acreditar, louvar e perpetuar; afogar-se na fonte imaginária para não acordar mais na realidade dura

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  4. Verdade. É uma ilusão que ninguém parece querer findar. Obrigado por acompanhar o Blog. Sempre grato.

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  5. Talvez os políticos queiram afinal que nós pensemos que a política é algo sujo e desnecessário, mas temos de entender que para mudarmos o meio não só nos compete reclamar e sim tomar posições.

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  6. Com certeza. A política de hoje é, de fato algo sujo. Cabe a nós purificá-la. Hoje não existem mais quem entre na política para ajudar, não é mais e talvez nunca tenha sido um meio altruísta. Hoje só se pensa no lado financeiro pessoal. Valeu por passar por aqui e prestigiar o Blog.
    Abraços

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