quinta-feira, 29 de abril de 2010

Anteontem

Anteontem, antes de ontem, para alguns até “onti-onti”. Apesar de parecer um dia comum, difere de mais de qualquer outro dia. Diferente do hoje, afinal não pode ser mudado. Diferente também do ontem, porque já sabemos as consequências do outro dia. Está mais próximo que os outros dias passados, mas não perto o suficiente para duvidarmos do que pode acontecer a partir dali.

Anteontem para mim é um dia comum, mas sempre de muito arrependimento. Certamente foi o dia que fiz alguma besteira. Falei mal de alguém. Briguei com alguém. Fui arrogante. Deixei de fazer algo que queria. Dois dias são o suficiente para sabermos o que deu errado e o que deu certo. E por vezes é ruim saber que não agimos corretamente diante de alguma situação. Daqui a dois dias, hoje será anteontem. E é sabendo do que o anteontem de amanhã, ou melhor, de depois de amanhã, irá me trazer de decepção é que penso no que fazer hoje.

Por falar em depois de amanhã, esse dia não é nem de perto tão importante quanto o anteontem. O anteontem, dia anterior ao anterior, por mim ganharia um dia nacional, diria até internacional. Preocupam-se muito com festividades como natal, dia das mães, dos pais, das crianças, dia do coelhinho dos ovos de chocolate, mas tudo não passa de capitalismo. É possível que exista espírito melhor que o espírito do anteontem? Pra mim não.

O anteontem é mais que um dia. É um marco. Compreendo a dificuldade que as pessoas têm em perceber a importância desse dia. Na verdade duvido que alguém já parou para pensar na sua importância, mas com certeza há, de fato importância. Eu preciso do anteontem pra fazer o hoje, e o hoje não seria nada sem o anteontem. Dois dias, ideal para ligar depois de um encontro. Dois dias, ideal para ligar depois de uma briga. Dois dias, tempo suficiente para refletir, mas não de mais. Por mim não só teríamos um dia internacional do anteontem, por mim esse dia deveria servir de referência no tempo: dois mil anos depois do anteontem.

Talvez esteja exagerando. Mas apenas aos olhos de quem não compreende. Trocaria todos os dias da minha vida pelo anteontem. Poderia já saber o resultado do que irei fazer. Viveria o anteontem para sempre. O anteontem pode ser o pior ou o melhor dia da vida, mas sempre será o dia mais importante. Seja para o bem, seja para o mau. O espírito deste dia é radiante. Para mim sim. Prometo fazer do hoje o melhor dia, mas apenas para que daqui a dois dias possa ter orgulho do meu anteontem.

Vemos-nos em dois dias.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Louco sim. Trouxa não.

Da série: "O que a tecnologia faz à algumas pessoas."

- Mas ela me falou!

- Te falou quando, se me disse que não vê ela desde semana passada?

- Me falou pelo MSN.

- O que, de fato ela te falou?

- Tá! Ela não falou, mas vi no nick dela.

- O que tem o nick dela agora, cara?

- Tava lá bem grande: AGORA EU TO SOLTEIRA E NINGUÉM VAI ME SEGURAR. (8)

- E isso o que é que tem?

- Ora, ta na cara, ela se considera solteira.

- Quem disse? Ela pode ser fã da Tati.

- Não é não, eu conheço ela, não gosta de funk.

- Pode ter mudado o gosto.

- Não, não.

- Tu é muito teimoso, vai falar com ela.

- Nem a pau. Ela ta solteira agora.

- Mas o que isso tem a ver? Vai deixar que acabe sem nenhuma explicação?

- Não precisa de explicação. Pra bom entendedor meia palavra basta.

- Cara, mas isso não é explicação!!! Ela só pôs uma música do gosto dela no nick!!!

- Não! Ela não é assim. Conheço bem!

- Então vai conversar com ela, porra!

- Pra quê?

- Ver o que ela ta pensando, ora.

- Nem rola!

- Vai fazer o que então?

- Nada.

- E deixar assim como se ela tivesse terminado contigo mesmo sem ter terminado?

- Não. Ela terminou comigo, só esqueceu de me avisar.

- Cara, tu não pode levar ao pé da letra o que o nick da guria diz!

- Posso sim, da minha ex eu posso. Conheço ela. Éramos muito apegados.

- Então por que não vai falar com ela?

- Porque é uma vadia. Aposto que já ta dando pra alguém.

- Isso tudo baseado no nick?

- Sim. Vi que ela tava entrando em umas comunidades meio estranhas no Orkut, também.

- E o que isso tem a ver?

- Tudo.

- Tu é louco.

- Louco sim, trouxa não.

- Mas quando que a guria te fez de trouxa? Ela só pôs a música no nick! CARALHO!!!

- Ta bravinho por que?

- O que tu acha?

- Ah! Já sei. É tu né?

- Eu o quê?

- Tá me traindo com ela!

- O quê?

- Ah ta! Entendi tudo. Sempre desconfiei.

- Desconfiou do que, meu?

- De ti e dela! Tu não é mais o mesmo.

- Ahn?

- Tudo bem, não guardo rancor. Tô saindo.

- Ando fumando um?

- Não, tudo bem. Te entendo. Ela é gostosinha.

- Não, tu ta entendendo errado.

- Tá bom, não precisa me enganar, não sou bobo, lembra? Louco sim, trouxa não.

- Ahn?

- To saindo.

- Vai onde?

- Sei lá.

- E como as coisas vão ficar?

- Não sei, tem alguma amiga pra me apresenta?

- Ahn?

- É, a gente podia sair em casais.

- Como assim?

- Sim, vai tu e minha ex, eu e tua amiga.

- Como?

- Arruma uma bem bonitinha pra fazer ciúmes.

- ...?

- Me liga depois, vou atualizar o status do meu relacionamento no Orkut. Tem alguma frase de impacto pra mim por no MSN?

- Quê?

- Deixa quieto. Tô saindo.

- Então ta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Como escolher seu lugar no ônibus.

Parece fácil, mas o que poucos sabem é que é uma tarefa árdua. Eu mesmo, há pouco tempo não tinha muita noção do que fazer ao entrar em um transporte coletivo; a única coisa que me passava pela cabeça é o grande constrangimento que deve ser sentar ao lado de alguém que não se conhece ou não se suporta. Pois bem, com o passar do tempo vejo que existem algumas táticas para escolher um lugar no ônibus, talvez nem sempre seja o melhor, mas com certeza o menos pior.

O primeiro passo, primordial para que o resto da viagem corra bem é não sentar ao lado de quem não se conhece (e não se tem intenção alguma de iniciar um relacionamento) quando há ainda lugares livres; por isso ao entrar no coletivo há de se ter uma certa manha para analisar todos os assentos em menos (muito menos) de um minuto, antes que todos o reparem e pensem: - O que esse mané tanto olha? – se isso acontecer nada mais importa, basta sentar em qualquer lugar e torcer para não ser linchado. Se a agilidade de nosso passageiro for boa o suficiente para identificar os assentos livres então continue, escolha o de mais agrado e aproveite.

A simplicidade é apenas ilusória. Não pense que ao escolher e sentar no assento o trabalho está terminado; é ai que ocorre o engano. Dependendo do dia – de como está o humor – é também preciso lutar de forma constante e árdua para evitar chatos faladores ao lado. A melhor alternativa é deixar uma mochila, casaco ou algum pertence – que seja grande e visível, para quando o outro passageiro ‘analisar’ os lugares vagos – sobre o banco vazio. Muitos vão achar ofensivo, afinal está tirando o lugar de um outro passageiro, portanto só faça isso se o ônibus tiver pelo menos mais três lugares livres. Há também quem pouco ligará para suas coisas e chegará gentilmente – mas apenas pensando em te ferrar – perguntando: Com licensa, posso retirar tuas coisas para me sentar? – é, é...n.. – ah, muito obrigado. (pois é, eles se aproveitam da boa educação que a sociedade nos exige). Se realmente o lugar for tomado por outro indivíduo, lembre-se: foi ele quem optou por sentar ao seu lado, logo não há obrigação de puxar assunto, ele que escolheu, ele que o faça se achar necessário. A alternativa para ‘cortar’ o ‘amigo’ é colocar os fones de ouvido ou ler uma revista; se nada adiantar ainda pode-se usar do velho: - pode calar a boca? Mas ai prepare-se para sair no soco. Embora na maioria das vezes ninguém tem vontade de puxar assunto com um desconhecido, há sempre os dias que estamos de bom-humor e suportamos tudo de cabeça erguida, portanto se está em um dia como esse, aproveite! Fale, puxe assunto, marque uma janta na casa da vó do seu ‘colega de buzão’ ou simplesmente pergunte como vai sua vida.

Muitas vezes damos sorte e encontramos assentos vagos ao lado de gente que conhecemos e, quase sempre, há muito assunto para conversar; porém é importante lembrar que assim como pode ser um tormento alguém sentar ao seu lado e falar, falar e falar, o vosso caro amigo pode pensar e estar passando pela mesma situação, portanto: fale o mínimo possível e apenas o ‘necessário’. Claro que existem casos onde a intimidade é maior, então esqueça isso e vá conversar. O importante é lembrar que o ônibus é um transporte e tem como intuito transportar (dã), não é um shopping, clube ou algo do gênero que há de se conversar e fazer amigos. Ninguém se importa com o que aconteceu contigo no fim de semana ou se sua mãe continua viva; pelo contrário, as pessoas odeiam o fato de ter que escutar histórias do cotidiano dos outros, afinal elas passam por coisas parecidas todos os dias. Deixe as conversas para os amigos de verdade, aqueles que estão contigo por vontade e não por obrigação. ‘Colega’ de ônibus é que nem família: não se escolhe. Com tanta violência nos dias atuais, as pessoas têm medo de quem fala muito, de quem se aproxima de mais. Deveriam deixar um aviso, instruções básicas na entrada do coletivo: Passo 1 – escolha seu lugar / Passo 2: sente-se / Passo 3: Shhhhhhhh, não fale!!! Fazer o que, as pessoas tem uma certa necessidade de interagir umas com as outras.

Lembro que estas dicas são para pessoas psicóticas e chatas como o humilde escritor. Se és uma pessoa normal, gosta de fazer amigos, valoriza a boa eduação dos outros e gosta de viver em sociedade, esqueça tudo. Não faça de uma viagem uma grande paranóia.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dia do beijo

O beijo com suas alegrias

Acende chamas, porém ao mesmo tempo às apaga.

Pode ser rápido ou demorado

Pedido ou roubado.

Há aquele beijo longo e também o rapidinho

Pode ser beijo de lingua ou apenas um selinho.

Nem todo beijo é gostoso

Tem o beijo que jamais queríamos ter dado

Tem também aquele que repetiríamos toda hora.

Pode ser um simples beijo.

O melhor é o beijo preliminar.

Tem o beijo por quantidade

Mas melhor se for por qualidade.

As vezes é inesperado

Porém se torna marcante.

Um simples beijo hoje, e amanhã sua amante.

O beijo une e revela sentimentos

Trás a tona desejos antes desconhecidos

Aproxima pessoas de forma que ninguém esperava

O beijo apaixona

O beijo encanta

O primeiro beijo pode ser nada ou pode ser tudo.

Primeiro contato físico

Pode parar por ali ou não.

Um beijo pode ser complexo

Instigar o querer mais

Com um beijo se faz a guerra

E também com o beijo se sela a paz.

[Feliz dia do beijo. Um abraço (ou um beijo?)]


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um novo político

Tornar-me-ei político. Essa é a decisão final. Não sou simpático, nem de muitos amigos, mas ao menos já estou treinado para ignorar as câmeras e repórteres chatos – digo chatos, pois fazem perguntas inteligentes que me constrangerão. Não deve ser difícil, juro que não roubarei. Mas mentirei; isso é impossível não fazer. Fácil mesmo, imagino eu, será desviar dinheiro – certo, talvez roube um pouquinho (ou muito). Provavelmente deve ter um guia rápido em algum lugar, talvez uma secretária ou secretário que me guiarão por esta jornada tão empolgante. Isso não me preocupa. Tenho algumas dúvidas sim, de como proceder, mas a dificuldade de arranjar um aliado político não pode ser tão grande. Votos? Solução fácil: cestas básicas, britas e promessas – este último, primordial para minha carreira política.

Concordo que, provavelmente minha família não concordará de cara com tudo isso, afinal não é fácil ter um parente num lugar tão sujo. Já considerei isto também e a solução não é difícil. Usarei o tal do nepotismo – não sei bem qual sua utilidade, mas deve ter em alguma lojinha do congresso para vender, vou para Brasília rapidim, rapidim. Disseram-me que esta é a nova – ou velha? Não lembro – moda para acabar com problemas familiares, até mesmo as mais sérias encrencas com a mulher. É incrível a facilidade que consigo solucionar cada mínimo problema que aparece, acho que fiz a escolha certa na profissão.

Certo dia perguntaram-me o que seria da minha vida, o que faria como meio de sobrevivência, o que estudaria, etc, etc. Sinceramente? Fiquei sem resposta. Pensei em algo produtivo, que ganhasse bem – não me importaria em trabalhar – e por mais que me odiassem, todos deveriam se render a mim. Entrar para o mundo do crime e ser reconhecido como um criminoso por todos chegou a me passar pela cabeça, mas foi então que me lembrei de como as cadeias estão lotadas. Não, isso não. Um garoto tão jovem não sobreviveria em meio a tantos ogros. Sem contar que não combina comigo ficar fugindo por ai. Pois é, a política foi a melhor saída. O ruim é começar de baixo, como vereador, prefeito, então só depois poder “mexer com algo maior”. Seria como roubar mercadinho para só depois virar traficante ou ladrão de bancos.

Na verdade a política nunca foi a minha primeira escolha, acho tão sujo. Mas ganha bem. Rouba bem? Sei lá, sei que dim-dim viria direto para meu bolso – ou meia, ou cueca, ou conta bancária mesmo. Pois bem, a política foi minha última escolha, diria eu, tentei estudar, juro que tentei. Tentei ser pobre e trabalhar feito louco, mas é difícil e cansa. Estudar como? Pagar a faculdade não dá. Pensei em entrar pro mundo do crime como traficante, assim começaria mais de cima, não precisar roubar. Fiquei com medo de me viciar. É, caros amigos, a política foi a única solução. A única coisa que tenho a fazer é iniciar, de fato minha carreira.

De tudo isso, o único problema sem solução até agora, é meu medo. Meus amigos dizem que não preciso, afinal se for pego por alguma falcatrua basta recorrer aos favores – pagos com outros favores mais tarde ou dinheiro mesmo. Realmente parece ser fácil, mas já pensou se a mídia pega no meu pé e me acusa de um monte de coisas que, supostamente, eu não fiz? Certo que tenho um plantel de mentirosos – perdão, plantel de ‘omissores’ – ao meu lado, mas mesmo assim, fico com receio. Sei lá, não sei se é uma boa ideia – sim, sou indeciso, que grande surpresa. Já sei, tentarei falar com nosso excelentíssimo presidente, talvez me dê algumas dicas. Viu? Solução fácil. Beber eu já bebo, só falta me inteirar sobre as novelas globais e sobre o BBB – tudo bem, o próximo -, tenho certeza que o povo me amará. Afinal, eu prometo que se for eleito...

Um grande abraço do seu futuro e talvez vitalício político brasileiro.