sexta-feira, 19 de março de 2010

Uma sexta-feira quase frustrada...

Como qualquer eventual noite de sexta-feira, a importância primordial era a diversão. Nada mais de divertido vinha à cabeça de Frederico – vulgo Fred – e Paulo a não ser visitar o Puteiro da Praia Grande. Havia tempo que não passavam por lá, afinal se virasse rotina perderia a graça. Nem pensaram muito, entraram no Celta turbinado e foram em busca da “felicidade”. O puteiro que os amigos saíam em busca era pouco conhecido na cidade, mas com certeza muito conhecido pelos dois. Nenhuma lembrança surgia com tanta veemência como as noites do PPG – a sigla era uma pequena “arte-manha” que usavam para despistar quem ousasse se intrometer nos planos dos fins de semana. Pode até parecer absurdo, mas contam que muitas putas velhas largavam qualquer outro cliente para atender os dois importantíssimos senhores. Ai de quem menosprezasse e não desse a devida importância para ambos quando entravam porta adentro; pois por incrível que pareça já havia acontecido, normalmente com putas novas que ainda desconheciam o posto que Fred e Paulo tinham naquele recinto – os poucos que presenciaram tal fato dizem nunca mais ter ouvido falar nas moças.

Pois bem, a noite estava apenas começando e a ansiedade pelo decorrer da festa era visível, afinal apesar de muita diversão entre fins de semana havia já algum tempo que os dois estavam na “seca” – hoje seria A Noite! Como já é de se esperar, o tão comentado – apenas entre os dois – puteiro era longe, ficava onde o diabo achou as botas, depois de tê-las perdido e um rio levá-las quarenta e sete quilômetros mais longe. Nada tirava o ânimo dos amigos, afinal eram tratados como reis e era lá que queriam estar. Pensavam que não haveria como a noite de foda ser estragada, estavam a caminho do Paraíso e apesar de conhecê-lo antes cada dia era único, como se o mundo parasse de girar, o aluguel não fosse mais cobrado, as contas fossem pagas e as mulheres só tivessem olhos para eles, os dois galãs de novela mexicana do PPG. Comentava-se há um tempo que a dona do bordel colocaria em homenagem aos seus melhores clientes, uma placa cujas escritas até hoje são desconhecidas, mas que ao seu final iria: “Aqui comem Paulo e Fred. Todos os merecem, porém poucos os têm.”

Apesar da autoconfiança e do otimismo pelo qual era esperada a noite, algo de pior aconteceu e fez desmoronar toda a alegria que uma vez estava exposta na face dos rapazes. Chegando ao “ponto final”, o Puteiro da Praia Grande, ou o que seria ele, avistam uma enorme placa com os seguintes dizeres: Bar do Osmar. O nome não poderia ser mais sugestivo, queriam imediatamente uma explicação, e Paulo não hesitou em saltar do “carona” e correr em pulos e gritos em direção ao “tal do Osmar” – como ele mesmo se referia. Fred, sempre mais astuto e cuidadoso foi aos passos leves atrás, apenas assistindo de longe o fiasco que seu amigo de estrada fazia. Ao chegar ao balcão Paulo gritou “emputecido”: quero ver cadê o merda do ‘seu Osmar’ – a ênfase e ironia com que se referia ao suposto dono do bar eram bárbaras. Fred que até então só escutava, entrou na porta do bar e ao contrário do que imaginava algumas horas antes, encontrou apenas velhotes jogando sessenta e seis, no lugar de mulheres fenomenais e eufóricas por sua presença, via homens barbados coçando o saco e tirando mosca do martelinho usando a unha. Era a pior decepção de sua vida desde que vira sua mãe com o cachorro em cima da cama. Após algum tempo de reflexão e decepção, Fred foi em direção a Paulo quando o avistou batendo sobre o balcão ainda chamando o Osmar. Nesse mesmo momento aparece um negrão dublê de armário, aqueles que nem a puta mais puta gostaria de experimentar. Apesar de seu tamanho a simpatia com que o homem falava com os amigos, era fantástica, foi então que proferiu algumas palavras antes de perguntarem qualquer coisa: “se procuram D. Lúcia – a cafetina do antigo bordel – ela não está mais aqui. Virou crente. Agora vive da criação de vacas. Podem encontrá-la numa fazenda que tem mais pra frente.

Paulo, depois de ver aquele negão não teve coragem nem de dizer ‘tchau’ pra alguém, virou as costas e com Fred na sua cola entrou no carro, ofegante. Os dois estavam a ponto de se abraçarem e chorarem, pois ainda não acreditavam que o PPG já não mais existia. O sonho de levar seus filhos no melhor lugar que já tiveram notícias já não seria possível. Era uma tragédia. Fred, com toda calma do mundo, apesar da tristeza, pensou rápido e comentou com seu parceiro que poderiam ainda sim procurar D. Lúcia, afinal uma vez cafetina, sempre cafetina. Paulo nem pensou direito, recebeu as palavras de seu amigo como uma última esperança. Procuraram a tal fazenda que Osmar – o negão que jamais esqueceriam – citara. Não foi difícil, demoraram se muito, quinze minutos para achar o tal lugar. Pararam o carro em frente ao portão e entraram, estava mais para um terreno cheio de vacas com um casebre – longe de ser uma fazenda –, mas isso não vinha ao caso. Bateram na porta desesperadamente perguntando pela cafetina e quando a avistaram abrindo a porta ajoelharam-se, beijaram-na e suplicaram por ajuda. D. Lúcia se emocionou ao ver o quanto aquilo era importante para os rapazes, e num estalo teve uma idéia, olhou para as vacas pastando, outras dormindo e os sugeriu algo que ambos jamais esquecerão.

A partir daquele dia, as sextas-feiras jamais foram as mesmas, as vacas pouco dormiam. A produção de leite triplicou e D. Lúcia teve grande aumento no faturamento. Todos estavam felizes, mas poucos entendiam o que significava a placa à frente do casebre: “Aqui comem Paulo e Fred. Vegetarianos por consciência, felizes por opção.”

2 comentários:

  1. Ééé amigo, são as vacas mulheres. Ou seriam as mulheres vacas? hahahaha.
    Desopilar é necessário,seja barranqueando ou pagando por isso.
    Parabéns, Marcão!

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  2. Valeu meu velho. Te agradeço mais uma vez por passar por aqui.

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