terça-feira, 5 de outubro de 2010

O começo de alguma coisa

Eis que minhas primeiras lembranças apareceram. Apesar de confusas, eram memórias vívidas; parecia um filme o qual eu assistia, mas ao mesmo tempo estava no meio de toda encenação. Foi mais ou menos assim que tudo começou, ou melhor, recomeçou.

Sabe aqueles dias que tudo dá errado? Algo me dizia que este era um desses. Tudo que eu lembrava era de ter saído para trabalhar e, repentinamente chegar ali, aliás, acordar ali; infelizmente não sabia qual meio me trouxera até o hospital. Contradizendo a minha teimosia em dizer que: “só entro num hospital se for pra sair num caixão”, eu estava ali, vivinho “da Silva”. Opa, opa, espera um pouco! Ou será que morri? – “Enfermeira!!!” – “Oi Airton, ainda bem que acordou, deseja algo?”, Airton, esse era meu nome, já havia esquecido. ‘Esquecer’, pelo jeito não me livraria tão cedo desse carma. – “Sim, sim. Desejo saber se morri!” – “Que absurdo homem! Não diga uma coisa dessas, mais vivo que o senhor nem eu estou.” A enfermeira saiu sorrindo e, pelo menos este mistério estava resolvido.

A minha vida sempre foi muito tumultuada, porém agora a paz reinava junto com o silêncio dos corredores. Tudo começou quando eu tinha lá meus doze anos, foi neste momento que eu ingressei de vez na vida. Meu pai sempre teve um jeito brigão, era um cara sisudo, de poucos amigos. Esse jeito dele com os outros nunca me incomodara, o que não compreendia eram os motivos de ser assim comigo. Eu sabendo que nadar contra a corrente era esforço em vão, certo dia escolhi apenas ignorar. Éramos duas pessoas distantes dentro de casa. Talvez o amigo leitor pergunte: “e tua mãe?”, se souberes onde ela está, me diga.

Não consigo definir qual seria o melhor motivo para meu pai me matar, ser viado ou vagabundo; por via das dúvidas decidi não arriscar, desde cedo encontrava pornografia em qualquer lugar, e aos doze anos resolvi procurar um emprego. Embora minha infância tivesse sido um tanto quanto louca, o que estava me deixando puto era não saber o que fazia naquele hospital, e o pior, tampouco saber onde ficava o tal hospital. A única coisa que eu escutava era: - “o médico já vem!” ah, já vem? Quando? Em 2020? Isso me remeteu à outra questão: em que ano estamos? Isso, e nenhuma enfermeira por perto; não sentia mais nada, só a dor irritante da minha cabeça. É melhor dormir e dar mais um tempo, pensei pra mim.

No segundo dia de vida – no hospital – tudo parecia normal, tirando duas mulheres que chegaram, em horários distintos, e só disseram: “não é ele”. Acordei com a luz do sol batendo na minha cara e a enfermeira cantarolando uma marchinha dos anos sessenta. – “Em que ano estamos, moça?” – “Moça? Deixa disso, pode me chamar de Zeti.” Tentei saber qual nome “Zeti” abreviava, mas não me veio nada em mente; será que era só Zeti e nada mais? “ah, quanto ao ano, estamos em dois mil e doze.”, “tudo isso? Dormi por quanto tempo?”, “alguns aninhos, querido; é normal não recordar.” Zeti saiu da sala, me surpreende cada vez o sorriso que em nenhum momento deixa seu rosto. Pois bem, estava eu ali, não sabia onde estava, o porquê e, tudo que me falaram havia sido meu nome e o ano. Ali, sem nada pra fazer a não ser dormir. Perto das sete da noite, entrou outra enfermeira nenhum pouco simpática, me deu alguns remédios e pediu que dormisse; o outro dia seria cheio de exames. “Exames? Mas do quê? Pra quê?”, nem vi ela saindo do quarto, apaguei feito um bebê recém amamentado.

2 comentários:

  1. Entrou no mundo do suspense?
    O que será que pode ter acontecido ao pobre homem?! Aguardo cenas do próximo capítulo...rs

    Bjs

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  2. Pois é; te fala que eu sou meio assim, começo a escrever algo e depois quando releio acho tão ruim que não dá vontade de 'continuar'. Acho que já escrevi uns 5 "começos" de história e não terminei, por sorte essa eu já postei, então achando ruim ou não provavelmente eu tente algum dia terminar. Hahahahaha
    Obrigado pelo comentário e pela passagem por aqui. É sempre bem vinda e bem quista tua visita.

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