domingo, 30 de janeiro de 2011

Sem celular

Nunca fui de levar muita fé nessa história de que há mal que vem para o bem e toda essa besteira do tipo. Muito embora, precise admitir que meio que entrei na onda dessa baboseira. Eu to sem celular, imagino eu, há umas duas semanas. Ou algum tempo aproximado. A falta que sinto do meu celular é do tamanho da vontade que tenho de acordar com dor de barriga. Nenhuma. Se é que preciso desenhar pra vocês. Há em evidência hoje uma moda muito sacana. A moda de “não vivo sem isso”. Vocês não vivem sem o coração ou sem um pulmão. Acho eu pelo menos, talvez com um pulmão até se viva. Cabe uma boa pesquisa no Google. Foco no assunto. As pessoas têm a puta mania de sair dizendo: - putz, mano, ainda bem que achei meu celular, não viveria sem ele. Caralho! Fiquei um dia sem internet quase cortei os pulsos. Pro inferno esse besteirol contemporâneo.

Sinceramente, o único motivo de falta pro meu celular é o despertador de manhã, porque além de eu ter cancelado o plano com a operadora, ele nem liga mais. Sem ele eu me incomodo bem menos. Há algum tempo atrás, sei lá, dez anos, umas duas pessoas só tinham celulares e hoje ninguém vive sem ele. Descoberta importante foi o fogo, o celular não passa de uma inutilidade útil – se é que me entendem. Neguinho vai viaja e não sabe fica três minutos sem pega uma merda de notebook e “farofea” pela internet. “Meu computador é minha vida”, tem gente que fala. To pagando dois mil e quinhentos pra maluco que fala isso se dá um tiro no peito – pago em dez vezes sem juros ainda. Pelo amor, que doença essa paranóia das pessoas.

Se a tecnologia é importante? Fato. Ninguém nega isso. Agora, por em prioridade e tornar isso a “balaca” do século, ai já é demais.

O que quero dizer, é que celular, internet e essas badalhocas todas, nem são tão importantes. Vive-se sem facilmente, ou no máximo com um pouquinho de esforço. Eu to sem celular por simples incompetência de uma empresa de telefonia (Oi?), mas depois de tanto stress que a dita cuja me ofereceu, eu agradeço, embora ainda irritado, o “bem” que me fez. To há algumas semanas pra comprar um celular de outra operadora, mas simplesmente não fui. Talvez amanhã vá, ou daqui um mês. Ainda não me fez falta. Se eu “perder” meu coração? Procuro por outro na hora, isso pode ter certeza. Mas meu celular não é como se fosse metade do meu cérebro. É que nem estar sem carro. As pessoas fazem grande caso de pequenas coisas. Assim como eu. Imagina que tempos atrás a gente vivia com uma lança e uma sunga de pele. Nem Sprite existia. Ta tudo bem. É só senta e relaxa.

Ta sem internet? Vai lê um livro. Ta sem celular compra um cartão e usa telefone público. Manda um sinal de fumaça ou simplesmente fala outra hora. Afinal não é tão importante assim trocar opinião imediata sobre o próximo eliminado do BBB.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

I

Acontece que tudo não passa de um desdobramento horrível. Nada é como é e nem será como é pra ser. Afinal de contas, bastava que ela me deixasse em paz. Isso com certeza me deixaria mais tranquilo. O problema é que não conseguia, de jeito nenhum, livrar-me dela. No começo até se compreende, é complicado livrar-se de uma alma que por tanto tempo viveu ali do teu lado, mas um ano depois? Parecia haver uma ligação imensurável, algo maior que a compreensão humana. Decidi procurar alguém que me ajudasse. Folheando o jornal, achei mãe de santo, pai de santo, tio de santo e quantos parentes do santo forem capazes de citar. Nada parecia me agradar.
Passei em frente a um bar, logo após desistir de encontrar em jornais algum ensinamento para a vida. Lá dentro havia algo, mas o dinheiro não chegava. Atravessei a rua e fui direto pra um mercadão, daquelas redes que todo mundo conhece. Lá era mais barato. Um e cinquenta e oito foi o mais barato que achei, mas preferi gastar dezesseis num uísque que só Deus sabe como se concebeu. Mijo de gato com gasolina, provavelmente. Eu só queria ir pra casa e contar uma história pra alguém, foi ai que lembrei que ela fora embora. Fazia um ano? Mais, provavelmente mais. O tempo voa quando se quer apenas parar. Ficava imaginando, se no lugar onde estivesse ainda estaria pensando nos tempos que passamos juntos. Depois de duas doses de uísque, sem gelo, decidi que não. Nem sei por que perdi tanto tempo da minha vida. Minha vida sempre foi uma perca de tempo. Ignorei a garrafa vazia do uísque que fora consumido e aos trancos e barrancos cheguei à cama pra mais uma noite sem ela.
Uma noite sem sonhos, nem pesadelos. Ao acordar não pude deixar de notar a falta dela. Seria preenchida de alguma outra forma? Lembrei do vinho que escondi sob algumas roupas quando eles roubaram minhas coisas. Que eu não encontre esses vagabundos. Depois de duas viradas de vinho, percebi que a geladeira não podia estar mais vazia. Tinha alguns cubos de gelo no congelador e um resquício de suco de laranja. O suco era mais velho que o gelo, com certeza. Não conseguia lembrar muita coisa. Lembrava sobre nada. Tentei ver os fatos da minha infância e nada veio à cabeça. Como se tivesse sido parido ontem. Não seria tão impossível. Lembrei de um rosto; familiar, mas nem tanto. Sai pra dar uma volta e a chuva me surpreendeu me dando o único banho que tomei na semana toda. Eu queria recuperar ela. Essa vida não era vida. Ninguém podia me ajudar, não até o momento.
Fui até o banco e na esperança de conseguir tirar um no caixa eletrônico esbocei um sorriso. Engraçado foi no caminho, uma morena alta, mas feia, nem gorda nem magra, apenas feia, ficou me encarando. Tava com cara de muito acabado? Pensei nela por alguns minutos, mas logo esqueci. Cinquenta e dois reais. Foi a última rapa da minha conta. Talvez conseguisse um empréstimo, alguns trocados só pra matar umas vontades. Fui direto pro mercado. Vi-me no meio de um milhão de desconhecidos com uma cesta na mão. Peguei um uísque melhor que da noite passada e um vinho. Além de três pacotes de bolacha salgada. Joguei todo o troco na mega sena, na esperança de não ganhar pra poder jogar de novo.
Ela continuava na minha cabeça e, infelizmente não tinha jeito de sair. Cheguei em casa e me pus à ligar. A cobrar. Ninguém atendeu. Comecei escrever uma carta e remeti ao endereço dela. Duvido que me responda, quis apenas tentar. Acabei tomando meia garrafa de vinho. Terminei meu dia deitado com pequenos cochilos, no meio tempo que fiquei acordado lembrei-me da morena que me fitara. A feia. Peguei no sono e não quis saber de mais nada.