terça-feira, 1 de março de 2011

Momentos, lembranças

Certo dia um amigo, talvez nem tão inteligente, me falou da importância dos momentos. Aprendi então que a vida não é apenas um todo; é muito mais que isso. A vida se faz de pequenos momentos e de alegrias momentâneas. Acho uma pena, de certo modo, alguns momentos que passaram. Esse verão foi bom. Passei por pequenos momentos memoráveis. As lembranças tornam os momentos eternos, mas entristecem ao saber que já passaram. Com certeza as lembranças nos fazem ver o como é bom aproveitar cada momento como se fosse o último. E se amanhã tudo acabasse? É certo que nada acaba. A vida é eterna e tudo deve ser feito com muita prudência e, quando falo em aproveitar ao máximo não penso em fazer merda à vontade. Penso no simples fato de aproveitar e memorizar ao máximo cada momento.

Não fiz nada de especial nesse verão, mas tudo que fiz foi especial. Passei por tempos bons e ruins, dias de alta alegria e de imensa tristeza, e no fim vejo que tudo vale a pena. Eu sei que ando meio angustiado por um motivo que não sei ao certo. Ainda tenho muita coisa pra aproveitar, mas me entristece saber que aquilo que passou, passou.

Às vezes deixamos a vida passar. Não aproveitamos aquilo que queríamos ter aproveitado, não dizemos o que deveria ser dito e não sentimos o que gostaríamos de sentir. Depois tudo passa. Eu sei que tenho um ano e uma vida toda pela frente e muitos momentos bons hão de vir e sei que virão, mas pensar no que passou causa certo constrangimento. Até acho que isso é tipo de um sentimento “pós-férias”, embora eu não tenha tido férias. Eu me lembro do que eu estava fazendo tal dia, tal hora, daquilo que foi e não vai voltar. Pra falar a verdade, acho que tive isso todas as vezes que fui viajar nos finais de semana. Fui pra alguns lugares passar três, quatro, cinco ou apenas um dia e sempre a volta à rotina me transparece um sentimento que não sei bem o que é. Talvez esteja clamando por uma mudança. Não sei. Não faz meu tipo ficar “inerte”, mas é a consequência por planos futuros de maior proporção.

Isso não passa de um desabafo. Semana que vem tenho minha “última” viagem de verão. Provavelmente quando voltar o mesmo sentimento ressurgirá. Isso eu não tenho dúvida. Mas faz parte, talvez o sentimento que me cobre hoje faça com que todas as minhas próximas viagens sejam cada vez mais proveitosas. Logo posso conseguir aproveitar todos os meus dias como se fossem viagens que devem entrar na história. Talvez esse seja um objetivo bom para se alcançar nessa minha vida carnal. Eu tenho muita gente que devo agradecimentos eternos. O que seria de mim e de todos nós se não tivéssemos sempre alguém do nosso lado pra dar apoio. Seja quem for e qual seja a relação. Acho que tirei um bom aprendizado de tudo que vem me acontecendo e não pensem que são coisas extraordinárias, são coisas simples; uma conversa, um passeio, uma reflexão. Tudo tem me feito aprender. São apenas momentos. Mas são momentos inesquecíveis. Essa é a vida.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

II

Muitas pessoas rezam pra se livrarem do mal que as perseguem. Rezam pra não serem roubadas, pra não morrerem e não perderem um braço enquanto atravessam a rua. Eu apenas espero que aconteça. Mas nem tudo era só desgraça, quando a minha cabeça não está para explodir, minhas manhãs são bem rentáveis. Embora tenha bebido algumas misturas noite passada, acordei incrivelmente bem. Ainda não conseguia tira da cabeça a feia do dia anterior, aquela aberração me vinha de minuto em minuto. Pensei em tudo mais, até esquecer. Manhã nublada, sem dor de cabeça só ficaria melhor depois de tomar um café com leite e alguns salgados na padaria rotineira. Pedi que pendurasse na conta, como fazia todo dia. Dessa vez foi diferente. Fui ao banheiro e quando voltei não vi ninguém, olhei pro chão e todos estavam estirados com a mão na cabeça. Era igual filme de ação. Cheguei a esboçar um sorriso, quando um filho da puta me catou o pescoço e, antes que eu percebesse, estava mais caído que todo o resto.

Tava tudo tranquilo, eram três encapuzados, mas não estavam roubando meu dinheiro. Era apenas um pouco de ação pra apimentar meu dia. O azar foi que um deles, o mais tapado, inventou de levantar o capuz. Logo tomou um supetão do mais mandão e baixou aquela merda, mas não foi rápido o suficiente. Meus olhos perceberam direitinho quem era. Eu perdi cento e alguma coisa naquela noite. Levaram-me o dinheiro e comeram o resto de comida que tinha nos armários. Eu falei que ia pegar esses bastardos. Levantei tranquilamente e me dirigi pro que parecia ser o chefe da trupe. Não demorou muito pra que me apontasse aquele cano furado, o pior é que era de plástico, com certeza era também no dia que invadiram meu apartamento. Eu era um fodido. Taquei a mão no meio da fuça dele. Foi nessa hora que percebi uns dois ou três clientes, dos mais covardes se esvaindo pela porta. Continuei batendo no palhaço. A raiva, por ora, havia me tomado de tal forma que nem pensei naqueles outros dois comparsas dele. Nem deu tempo. Uma cadeira quebrou na minha nuca e a última coisa que vi, foram dois ou três pés vindos em direção ao meu nariz.

Não sei o tempo que se passou, mas me acordaram na hora mais inconveniente possível. Sonhava com ela, o pior é que a feia, aquela do outro dia, estava no sonho. Não gostei nada disso. Ambas ali, em minha frente e a tensão não me deixava ver o que poderia acontecer. Um espirro de água na minha cara apagou qualquer imagem que já tivera das duas mulheres. Pra meu espanto eu ainda estava jogado na padaria. Vi dois pés ao meu lado e uma vassoura. A bagunça fora feia. Nada que não estivesse acostumado. Levantei e sem ver quem havia me acordado, sai porta afora. Acho que tinha me livrado de pagar a conta. Ou será que lembraram de anotar no caderninho?

Fui pra casa, era a única coisa que me restava fazer. Passava do meio dia, o que significava que fiquei algumas horas apagado. A dor de cabeça só me fazia pensar em tomar alguma coisa, mas para meu espanto a secura na garganta não pedia por álcool, não desta vez. Servi um copo de água e tomei alguns goles. Tentei cochilar e voltar à visão dela. Nada veio. Nada além do correio, uma resposta. Finalmente uma resposta. Tinha um telefone e um endereço. Dizia pra entrar em contato a partir do próximo dia. Hoje era vinte e três, não lembro o mês, mas era inverno. Dia vinte e quatro seria memorável. Seria uma reconciliação? Gostaria que fosse. Fazia tempo, mas ainda não esquecera o cheiro que deixava na minha roupa de cama. O fedor do meu apartamento sumia só de tê-la ali. Eu comi alguma coisa que achei na despensa. Esperei o próximo dia olhando algo. Não sei o quê, apenas olhava alguma coisa. No final das contas lembrei-me dela de novo, não dela, mas da feia. A feia do outro dia. Ela não saía da minha cabeça. Talvez fosse a necessidade, precisava de uma mulher urgentemente, mas não da feia. A feia era dose, mas em último caso até servia. Amanhã eu a esqueceria. Esperava esquecer. Nada de importante aconteceu durante o resto do dia. Minha luz havia sido cortada. Somente isso. Amanhã tudo melhoraria.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Sem celular

Nunca fui de levar muita fé nessa história de que há mal que vem para o bem e toda essa besteira do tipo. Muito embora, precise admitir que meio que entrei na onda dessa baboseira. Eu to sem celular, imagino eu, há umas duas semanas. Ou algum tempo aproximado. A falta que sinto do meu celular é do tamanho da vontade que tenho de acordar com dor de barriga. Nenhuma. Se é que preciso desenhar pra vocês. Há em evidência hoje uma moda muito sacana. A moda de “não vivo sem isso”. Vocês não vivem sem o coração ou sem um pulmão. Acho eu pelo menos, talvez com um pulmão até se viva. Cabe uma boa pesquisa no Google. Foco no assunto. As pessoas têm a puta mania de sair dizendo: - putz, mano, ainda bem que achei meu celular, não viveria sem ele. Caralho! Fiquei um dia sem internet quase cortei os pulsos. Pro inferno esse besteirol contemporâneo.

Sinceramente, o único motivo de falta pro meu celular é o despertador de manhã, porque além de eu ter cancelado o plano com a operadora, ele nem liga mais. Sem ele eu me incomodo bem menos. Há algum tempo atrás, sei lá, dez anos, umas duas pessoas só tinham celulares e hoje ninguém vive sem ele. Descoberta importante foi o fogo, o celular não passa de uma inutilidade útil – se é que me entendem. Neguinho vai viaja e não sabe fica três minutos sem pega uma merda de notebook e “farofea” pela internet. “Meu computador é minha vida”, tem gente que fala. To pagando dois mil e quinhentos pra maluco que fala isso se dá um tiro no peito – pago em dez vezes sem juros ainda. Pelo amor, que doença essa paranóia das pessoas.

Se a tecnologia é importante? Fato. Ninguém nega isso. Agora, por em prioridade e tornar isso a “balaca” do século, ai já é demais.

O que quero dizer, é que celular, internet e essas badalhocas todas, nem são tão importantes. Vive-se sem facilmente, ou no máximo com um pouquinho de esforço. Eu to sem celular por simples incompetência de uma empresa de telefonia (Oi?), mas depois de tanto stress que a dita cuja me ofereceu, eu agradeço, embora ainda irritado, o “bem” que me fez. To há algumas semanas pra comprar um celular de outra operadora, mas simplesmente não fui. Talvez amanhã vá, ou daqui um mês. Ainda não me fez falta. Se eu “perder” meu coração? Procuro por outro na hora, isso pode ter certeza. Mas meu celular não é como se fosse metade do meu cérebro. É que nem estar sem carro. As pessoas fazem grande caso de pequenas coisas. Assim como eu. Imagina que tempos atrás a gente vivia com uma lança e uma sunga de pele. Nem Sprite existia. Ta tudo bem. É só senta e relaxa.

Ta sem internet? Vai lê um livro. Ta sem celular compra um cartão e usa telefone público. Manda um sinal de fumaça ou simplesmente fala outra hora. Afinal não é tão importante assim trocar opinião imediata sobre o próximo eliminado do BBB.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

I

Acontece que tudo não passa de um desdobramento horrível. Nada é como é e nem será como é pra ser. Afinal de contas, bastava que ela me deixasse em paz. Isso com certeza me deixaria mais tranquilo. O problema é que não conseguia, de jeito nenhum, livrar-me dela. No começo até se compreende, é complicado livrar-se de uma alma que por tanto tempo viveu ali do teu lado, mas um ano depois? Parecia haver uma ligação imensurável, algo maior que a compreensão humana. Decidi procurar alguém que me ajudasse. Folheando o jornal, achei mãe de santo, pai de santo, tio de santo e quantos parentes do santo forem capazes de citar. Nada parecia me agradar.
Passei em frente a um bar, logo após desistir de encontrar em jornais algum ensinamento para a vida. Lá dentro havia algo, mas o dinheiro não chegava. Atravessei a rua e fui direto pra um mercadão, daquelas redes que todo mundo conhece. Lá era mais barato. Um e cinquenta e oito foi o mais barato que achei, mas preferi gastar dezesseis num uísque que só Deus sabe como se concebeu. Mijo de gato com gasolina, provavelmente. Eu só queria ir pra casa e contar uma história pra alguém, foi ai que lembrei que ela fora embora. Fazia um ano? Mais, provavelmente mais. O tempo voa quando se quer apenas parar. Ficava imaginando, se no lugar onde estivesse ainda estaria pensando nos tempos que passamos juntos. Depois de duas doses de uísque, sem gelo, decidi que não. Nem sei por que perdi tanto tempo da minha vida. Minha vida sempre foi uma perca de tempo. Ignorei a garrafa vazia do uísque que fora consumido e aos trancos e barrancos cheguei à cama pra mais uma noite sem ela.
Uma noite sem sonhos, nem pesadelos. Ao acordar não pude deixar de notar a falta dela. Seria preenchida de alguma outra forma? Lembrei do vinho que escondi sob algumas roupas quando eles roubaram minhas coisas. Que eu não encontre esses vagabundos. Depois de duas viradas de vinho, percebi que a geladeira não podia estar mais vazia. Tinha alguns cubos de gelo no congelador e um resquício de suco de laranja. O suco era mais velho que o gelo, com certeza. Não conseguia lembrar muita coisa. Lembrava sobre nada. Tentei ver os fatos da minha infância e nada veio à cabeça. Como se tivesse sido parido ontem. Não seria tão impossível. Lembrei de um rosto; familiar, mas nem tanto. Sai pra dar uma volta e a chuva me surpreendeu me dando o único banho que tomei na semana toda. Eu queria recuperar ela. Essa vida não era vida. Ninguém podia me ajudar, não até o momento.
Fui até o banco e na esperança de conseguir tirar um no caixa eletrônico esbocei um sorriso. Engraçado foi no caminho, uma morena alta, mas feia, nem gorda nem magra, apenas feia, ficou me encarando. Tava com cara de muito acabado? Pensei nela por alguns minutos, mas logo esqueci. Cinquenta e dois reais. Foi a última rapa da minha conta. Talvez conseguisse um empréstimo, alguns trocados só pra matar umas vontades. Fui direto pro mercado. Vi-me no meio de um milhão de desconhecidos com uma cesta na mão. Peguei um uísque melhor que da noite passada e um vinho. Além de três pacotes de bolacha salgada. Joguei todo o troco na mega sena, na esperança de não ganhar pra poder jogar de novo.
Ela continuava na minha cabeça e, infelizmente não tinha jeito de sair. Cheguei em casa e me pus à ligar. A cobrar. Ninguém atendeu. Comecei escrever uma carta e remeti ao endereço dela. Duvido que me responda, quis apenas tentar. Acabei tomando meia garrafa de vinho. Terminei meu dia deitado com pequenos cochilos, no meio tempo que fiquei acordado lembrei-me da morena que me fitara. A feia. Peguei no sono e não quis saber de mais nada.