quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Quanta bobagem...

Era apenas um quarto escuro que em minutos se transformou no “bloco A” das inspirações. Os gritos ecoavam pelos corredores silenciosos, se é que havia corredores – se realmente houvesse seria mais assustador, mais enigmático, mais interessante –, havia sim um corredor, mas que não levava pra lugar algum. Um corredor de pouco mais de dois metros, não era como nos filmes. Mas nada de importante acontece no corredor, afinal era apenas um quarto.

O começo de um novo dia – meia-noite – tornara as inspirações mais fáceis, a chuva torrencial ocasionou um enigmático clima de loucura. Fácil não dormir. Difícil seria apenas se quisesse, de fato, manter os olhos abertos. Quantas divergências.

Ora iluminado, ora na escuridão. Era apenas um quarto escuro, mas apenas em linguagem figurada, pois a claridade estava a um toque. A escuridão é melhor, ainda mais para pensar e refletir. Quantos caminhos abertos e o cair da noite faz enxergar tudo. Pensar nas palavras proferidas e naquelas que ainda estão entaladas. Glória ao cair da noite.

Uma noite de inspiração, mas apenas para bobagem. Dedicado então a falta de sono, as inspirações catastróficas, as esperanças, a visão do futuro, aos novos planos, a leitura das mentes, as novidades da vida e finalmente ao quarto escuro, perdido em meio à chuva que não poderia passar em branco. Numa noite escura por dentro, mas com claridade sobrando do lado de fora. Ah sim. O quarto escuro, o corredor, tudo uma casa. Escuridão apenas por falta de vontade de acender a luz, e a claridade do lado de fora, postes de luz. É quinta-feira – passados apenas cinquenta e sete minutos deste dia – e noite adentro vivo expectativas para os próximos dias, meses e talvez até anos.

Quanta bobagem.

domingo, 20 de setembro de 2009

Um dia crescemos...

Um dia crescemos e vemos tudo que deixamos para trás. Descobrimos que nossa vida será sempre feita de lembranças das coisas que ficaram, das pessoas que passaram e dos momentos que se eternizaram. São memórias que queremos esquecer e memórias que queremos reviver.

Um dia crescemos e descobrimos que nossa infância já se foi, que o tempo de adolescência já não existe mais. Vemos-nos em um mundo onde no princípio estamos perdidos, sem apoio de quem sempre zelou por nós. Distraídos no meio de tanta confusão, não encontramos mais aquele amigo que por tanto tempo esteve ao lado. Afastamos-nos daqueles amigos que sempre nos quiseram bem, que fizeram parte das brigas e parte das conquistas. Para trás ficam os professores, as pessoas que nos viram crescer, aqueles que um dia imaginaram o que seria daquele (a) garotinho (a).

Um dia crescemos e nos habituamos a uma vida calma, a uma vida séria. A rotina, por mais que temida, passa a tomar conta de nossas vidas, afinal não podemos viver apenas de festas pela eternidade. Crescemos e nos habituamos ao trabalho, ao estudo e às poucas pessoas que ficaram de uma vida toda.

Um dia crescemos e aprendemos que a família é sim a base de tudo. Compreendemos que os pais sim, sempre tinham razão. Que esses são os que mais zelaram por nós, e são os mesmos que até a morte nos colocarão em primeiro lugar. Aquele velho (a) chato (a) que um dia tanto incomodou passa a ser o (a) dono (a) da razão, tomamos o lugar de responsáveis e passamos a compreender que a “chatice” de antigamente, hoje já não é mais tão chata.

Um dia crescemos e passamos a dar valor a pequenas coisas. Vemos num simples gesto o carinho de quem preza por nós. Aprendemos a valorizar aquilo que realmente há de importante na vida, afinal as quedas com o crescimento foram inúmeras, o que nos faz refletir sobre o real sentido de cada valor que estimamos em nossas vidas.

Um dia crescemos e lembramos-nos daquele (a) que um dia realmente nos importou na vida. Daquela alma que certamente era gêmea, daquele sentimento adolescente que parecia insubstituível, e que, de fato era insubstituível.

Um dia crescemos e sentimos falta do que não fizemos, sentimos falta do que não falamos, sentimos falta do que não expressamos. Refletimos sobre o como fez falta uma palavra, um gesto de carinho, um “obrigado”, um “por favor”, um “eu te amo”. O dia que crescermos o tempo já terá ido, as pessoas passado e pouca coisa, diria pouquíssima coisa, poderá ser reencontrada.

Um dia crescemos e o pior é que não sabemos quando nem como. Um dia perdemos tudo e da mesma forma, não sabemos nem onde e muito menos quando. Um dia crescemos e só nos basta ter certeza que aquilo que queríamos que nos acompanhasse pela vida foi trazido junto, pois a dificuldade de reconquistar o que já fora nosso é imensa.

Um dia crescemos e a garantia de que fizemos nossa parte, é pensar: o que quero para mim após o dia que crescer?

Um dia crescemos e a vida passa a ser real, passa a ter sentido e a melhor coisa é crescer ao lado de quem realmente amamos, afinal: um dia crescemos e isto sim é inevitável.

“O dia que eu crescer, quero ter certeza de que mesmo que não trouxer comigo aquilo que quero para minha vida, lutei até o fim para que isso fosse possível. Eu sei o que quero para mim, eu sei o que tenho de importante para minha vida, e com certeza a vida é muito curta para desperdiçarmos aquilo que de melhor temos, principalmente com bobagens. Afinal um dia crescemos, e o arrependimento será constante e somente a certeza de que a luta pelos objetivos esteve presente é que pode amenizar qualquer futura decepção.”

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Qual fim vai querer?

Vou facilitar o trabalho da Morte. Cuidarei de cada detalhe para que nada saia errado. Fumarei até o último maço de cigarros, beberei até o último cálice e pra matar a fome o McDonald’s é logo em frente. Dormirei descoberto e com a janela aberta. Deixe que o vento bata e que a chuva caia, pois eu continuarei nos meus graciosos sonhos (graças aos remédios tomados sem prescrição).

Nada de carro elétrico, nada de papelzinho no lixo. Meu almoço será no fast-food. Passarei longe de escadas para eu andar somente o necessário. Fugir dos esforços será minha meta, nada de pensar, afinal pra quê serve o computador? Entre algumas tragadas, falarei da miséria da minha vida e pensarei no último capítulo da novela. Estragando-me aos poucos, penso estar vivendo. Nada de paciência ou calma, o stress pode matar – é bom. Trabalho pra casa sim. Minha casa é uma p#rr@ do mesmo. Nada de cachorro, crianças, família. Só me restam os chatos, aqueles chatos dos vizinhos, gritando, correndo, incomodando – mais um ponto pro stress.

Essa é minha vida moderna, esta será minha nova vida, a vida em busca da morte. Sem cuidados ou precauções. Viverei sem romance, apego e chutarei para longe qualquer sentimento que se aproximar.

Continuo buscando a morte, é o que me resta. Amanhã acordarei estressado, fumarei o que puder no começo da manhã, iniciarei minha agenda em busca da morte. Cronograma marcado, pacto cerrado, agora é cada um por si.

Ponto cego da vida, onde nada mais enxergo e como num fim trágico um ou dois chorarão sobre minhas cinzas, sim, pois jamais pagarei para que me enterrem. Minhas cinzas sumirão ao vento de uma manhã chuvosa, no bueiro de uma viela qualquer e com pouco suspense todos saberão que eu ajudei a morte, que foi eu que a escolhi e não o contrário. Eu decretei minha morte, e ninguém mais, eu me mandei em vida e me mandei em morte. Que assim seja.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

fu.ti.li.da.de (lat futilitate)

Atento a muitos pedidos – um ou dois no máximo –, trato neste dia de algo que atordoa a população de forma uniforme, que vem se alastrando e impregnando de forma silenciosa nos âmbitos sociais. Ninharia, insignificância, pouco valor, vão... Tantas são as denominações, os sinônimos, os termos que podem ser utilizados para descrever algo tão frívolo, algo tão fútil como a futilidade.

Pouco importa os verdadeiros valores, pouco importa os verdadeiros sentimentos, a verdadeira verdade, de grande importância apenas o que os outros pensam, veem e comentam. Há graça na demonstração de cada segundo da vida, na exposição de cada passo dado. Para alguns há.

Questiono a audácia de quem se expõem e da forma com que se faz. Palpitações de futilidade por muitos momentos acabam com nossa moral, afinal é uma doença que só há de se alastrar. A internet com certeza gera muitas oportunidades para que se faça válido algo tão inútil. Exibicionismo, mesmo que através de mentiras, apenas para sermos comentados. Isso ai! Não retiro minha pessoa do meio de toda essa falação, pois todos nós estamos um pouco atacados por este mal. O Orkut! Ah, o Orkut! Rei da futilidade, rei da propagação de bobagens, poderoso meio para transmitir a todos um sentimento supérfluo e sem princípios. Rede que nos deixa vistos, e muitos o utilizam para exposição de trabalhos, meio de tirar dúvidas, aproveitar o contato com pessoas do Brasil e até do mundo todo. Há um porém, este “muitos” trata-se apenas de uma força de expressão, pois a grande maioria o utiliza para exposição pessoal, sem fundamento.

Como já citado, a futilidade é pegajosa, é transmissível e ninguém está livre dela. Muitos mantêm o controle, não ousam tanto quanto à exibição, apenas interagem com os outros. Mas não estamos livres daqueles (as) que vivem diretamente pelo exibicionismo. Tudo gira em torno da exibição, já não importa mais o “eu”, apenas aquilo que os outros pensam do “eu”. Essa é uma futilidade moderna, mas não vem de hoje, dar valor a coisas que não o tem, utilizar da superficialidade para viver, mostrar primeiro para depois aproveitar, são todos pontos altos da futilidade embutida na sociedade.

Todos deveriam sair deste mundo imaginário, deste mundo irreal, aproveitar cada minuto sem dar importância aos comentários que a foto renderá, afinal para que foto? Se tudo que há de bom estará guardado em nossas lembranças, as fotos apenas nos farão recordar de algo que sempre esteve ali, mas nunca terão o valor real para quem a vê apenas por ver e não viveu o que passou.

Há um mundo muito melhor, e basta a nós descobrir. Com certeza usufruirei de forma muito mais contemplativa o dia que me livrar deste mal, pois sei que mesmo eu tenho um pouco disso, assim como todos. A partir deste dia serei livre, livre para viver...

Futilidade, inutilidade, superficialidade... Futilidade, futilidade, futilidade. A repetição não fará ninguém melhor, mas abrirá os olhos de muitos (outra vez “muitos” é força de expressão, pois poucos, pouquíssimos – há menos que isso? – quase ninguém lerá isso! (achei)).